segunda-feira, 4 de outubro de 2010

PRIMEIRA AULA : DIREÇÃO

DIREÇÃO

O diretor de um filme é responsável pelo resultado final de um conjunto chamado cinema. O papel de diretor começou com o próprio realizador. No início do cinema, ainda por volta dos primeiros anos do séc.XX, não havia nenhum contingente técnico disponível, e quem tivesse vontade de filmar, deveria tomar todas as iniciativas para tal. Os diretores então escreviam suas próprias histórias, produziam, filmavam, às vezes atuavam e também montavam o filme. Algum tempo depois, quando Hollywood entrou em cena como pólo de produção de cinema, os filmes ganharam outra função, que acabou por se tornar uma espécie de monarquia do cinema: o produtor.
O produtor, por ser quem financiava os filmes, escolhia os roteiros, os artistas, e até o diretor, que se tornava mero técnico, tanto quanto os demais. Mas na Europa foi um pouco diferente. Como não existia uma produção industrializada, o diretor continuou sendo o grande realizador, o artista que usava o cinema como meio de expressão. Os primeiros grandes diretores, com exceção de D.W.Griffith e Edwin Porter, foram europeus.
O Diretor tem, portanto, seguindo o raciocínio europeu, a responsabilidade do projeto. Ele deve conhecer perfeitamente todos os detalhes do roteiro, estudá-lo num storyboard, e ter previamente uma imagem feita de cada plano, que no conjunto dará significado à sua obra.
Além do mais, deve conhecer detalhadamente cada função técnica do cinema, e saber o que pode extrair de cada uma com o orçamento que tem. Deve ter uma cultura literária, musical e dramática elevada, ou pelo menos condizente com o resultado que quer obter do cinema, pois tudo servirá como referência em sua criação, mas também para poder escolher a melhor trilha sonora e a melhor forma de extrair a dramaticidade desejada de seus atores. Conhecimento de técnicas de fotografia serão muito úteis na agilidade do processo, pois saberá com mais precisão o que quer do fotógrafo. A noção geral da narrativa dará a ele segurança para supervisionar a montagem, e encaixar depois todos os elementos de pós-produção, como efeitos, fusões, ruídos e música.
O trabalho do diretor é árduo, pois dele todos da equipe esperam segurança, tanto na escolha dos planos como na condução da filmagem tecnicamente falando. Ele deve saber até onde vão suas limitações técnicas frente à verba e/ou possibilidades com o equipamento disponível, para que não peça coisas impossíveis e crie um pesado ambiente de discórdia no set (quando todos procuram culpados, o caos está instalado). Da mesma maneira, deve avaliar até onde seu pedido está sendo atendido pela equipe de diretores, fotografia, arte e produção, para deixá-los à vontade com a margem de criação pessoal de cada técnico, sem que, também, seu trabalho seja autoritário e extravagante. É necessário senso de medida apurado, que só se obtém quando se está totalmente imerso num projeto.
O diretor é um criador que está lidando com um conjunto de artes que confluem para uma resultante de imagens, e por isso deve atentar para itens relacionados à filosofia da arte e teorias da estética. Deve escrever sempre que possível, para treinar a coerência narrativa, e exercitá-la no cinema, fazendo experiências de propósito bem definido. Deve aprender a refinar o olhar poético que tem do mundo, como forma de aprimorar sempre sua linguagem, para que possa contribuir com informações diretas e metafóricas, efetivando assim a criação artística.
O diretor costuma ter 2 assistentes: o primeiro assistente o segundo, este por vezes também conhecido como continuista. O primeiro assistente é seu braço direito, que conhece o roteiro tão bem (ou até melhor) que é capaz de dizer sem pestanejar qual plano será rodado em seguida, bem como quais são os atores, e qual a intenção dramática daquele plano. Isso é apenas uma forma de lembrar o diretor para que ele não se esqueça da linha narrativa do filme, e não se perca com detalhes que poderão mostrar-se incoerentes. O primeiro assistente ainda confere o tempo de cada plano através de um cronômetro e preenche um boletim de controle. O segundo assistente por vezes é quem preenche este boletim, mas sua principal atividade é o cuidado com a continuidade. Isso significa que ele deve estar atento a cada plano para que o plano seguinte a este no filme, por mais que seja filmado outro dia, tenha as mesmas características de cenário, figurino, objetos de cena, maquiagem e iluminação. Quando a produção é muito grande, pode-se ter até 3 assistentes de direção, o terceiro sendo exclusivamente continuista.
Outra função da equipe de direção é o casting, ou escolha do elenco. Essa modalidade no Brasil é pouco explorada, e em geral é resolvida pela produção e direção, mas há uma função específica para isso, mais comum no cinema americano, e que se preocupa exclusivamente com a escolha e o contato com o elenco. Em cinema publicitário seu uso é constante.
No cinema em que o diretor é o autor, ele é o responsável pelo filme e pelo resultado, e deve zelar para que ambos confluam harmonicamente, segundo sua estética.


Fonte: Filipe Salles   


BIBLIOGRAFIA

CHESHIRE, David. Manual de Cinematografía. H-Blume Ediciones, Madrid, 1979
DANCYGER, Ken. Técnicas de Edição para Cinema e Vídeo.Campus, RJ, 2003
GAGE, Leighton & MEYER, Claudio. O Filme Publicitário. SSC&B-Lintas, 1985
MALKIEWICZ, Kris. Cinematography : A Guide for Film Makers and Film Teachers, Simon & Schuster, 2nd edition, 1992
MONCLAR, Jorge. O Diretor de Fotografia. Solutions Comunicações, RJ, 1999
WATTS, Harris. Direção de Câmera. Summus editorial, SP, 1999

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